domingo, 13 de fevereiro de 2011

Assalto

Bom dia, patota!
Peço, mais uma vez, perdão pelo atraso nas postagens. Semana retrasada foi corrida e, apesar de perfeita, um pouco cansativa. Eu não postei nada porque eu não tinha ideia do que postar e estava cansado demais para criar algo. Estou desenvolvendo duas enquetes, mas ainda não estão prontas. Apesar disso, entrei no blog todos os dias. Da semana retrasada. Semana passada, do dia 7, eu tenho um motivo real para não postar.
Quinta-feira eu fui assaltado.
Venho pensando desde, então, sobre o que vou escrever aqui, a despeito do assalto. Fiz diversas observações sobre a natureza humana com o ocorrido e tive várias matérias para postar aqui. Pensei em falar sobre como as pessoas tem o vício de perguntar "você está bem?!" antes mesmo de perguntar se o bandido carregava alguma arma. Mas o que quero dizer sobre a indagação é que as pessoas não perguntam isso em todos os sentidos, mas sim no físico. "Você está bem?! Eles te bateram?! Te machucaram?! ..." As pessoas se preocupam mais com o físico do que com o mental, o pensamento da pessoa, que, em minha opinião é um milhão de vezes mais importante que qualquer coisa. É de diversas crenças que, mesmo após a morte do corpo, o 'espírito', a alma da pessoa, sobrevive. É assunto de teses e discussões que a mente domina a matéria, a alma é vital. Eu creio que o corpo é infinitesimal, comparado ao poder e beleza da mente.
Mas decidi não falar sobre isso. Pensei em falar sobre o Karma, sobre, quando as coisas estão tão perfeitas, algo terrível tende a acontecer para equilibrar as coisas. Pensei em falar sobre a normalidade que tem nos tomado sobre o terror da violência. Se transformou em algo tão banal, ser assaltado... Pensei em falar sobre o quão erradas estão as pessoas que dizem que o amor não existe. Em falar sobre os servidores públicos. Sobre traumas. As opções eram inúmeras. Mas decidi não falar sobre nenhuma delas. Decidi escrever como uma história, assim vocês podem entender melhor o que aconteceu e, se vocês se esforçarem só um pouquinho, vocês pensarão na vida.

O sinal tocou e eu sorria. A vida era bela, era perfeita. Saí pela porta da minha nova sala, da melhor escola em que eu já estudei. Amigos, fossem eles professores, alunos ou empregados do colégio. Tudo estava perfeito.
Saí da sala abraçado com a mulher mais linda que já vi em toda minha vida. Ela também me abraçava. Levava nas costas as bolsas minha e dela e ela levava meu violão. Conversamos entre nós e com nossos amigos, que nos acompanhávamos. O sol brilhava forte e eu estava, como nunca estive antes em minha vida, feliz.
-Dottoly, venha para minha casa, esta noite?! - perguntou-me Cassie, minha namorada - Só para passarmos algum tempo juntos...
E lá fomos nós. Entrei na linha de ônibus dela e fomos conversando e nos divertindo até o ponto. Descemos e passamos a noite juntos, uma noite perfeita, como sempre era quando estávamos juntos. 10 horas da noite, minha mãe me liga, dizendo que já é hora de ir para casa. Infelizmente. Então, lá fomos nós, novamente.
Chegamos no ponto. Estava com minha bolsa, minha carteira, meu celular, meu pen-drive, e meu xadrez, na mãe dela. Não sei porque decidimos levar o xadrez para o ponto. Ficamos um pouco lá, esperando o ônibus. Apesar do fim de mundo em que estávamos (tanto que só passava um ônibus naquele ponto), a avenida em que estávamos, logo na frente da casa dela, era movimentada.
A noite estava linda. Escura, mas a iluminação pública e as lanternas dos carros davam um brilho amarelado para a noite, impedindo a luz prateada da Lua de chegar às calçadas pavimentadas e movimentadas.
Do outro lado da avenida, dois caboclos esperavam para atravessar. Um deles de chapéu vermelho escuro e moleton de mangas compridas azul escuro, o outro de cinza e toca. Ambos de shorts.
-Meu amor, acho que vamos ser assaltados - disse-me Cassie. Apesar disso, estava sorrindo e eu também, estávamos felizes.
-Que racista, Cassie - brinquei com ela.
-Eu to falando sério - ela riu.
Nós nos beijamos. E eu fechei os olhos. Bem forte. Me perdi no beijo, me afoguei em seu gosto, apaixonado como estava, sentia como se nada pudesse me fazer mal. Sentia-me como se estivesse em outro lugar e não na avenida suja e marcada pela humanidade escrota e horrível. Perdi o ar.
-Escuta, cara, não fica em pânico, não, mas passa tudo o que você tem aí.
Eu abri meus olhos. As palavras a seguir se misturam num turvo redemoinho de dor e aflição. Lembro de meu amor dizendo que eu não tinha nada, apenas material escolar na bolsa, e eu dizia algo como 'calma'. O de blusa cinza tremia de nervosismo. Era, sem dúvida alguma, seu primeiro assalto, e ele parecia dizer 'calma porra nenhuma me passa tudo o que você tem agora passa vai". O de blusa azul segurava uma arma.
A arma era falsa, isso até minha linda irmã branca de 1 ano perceberia. Parecia aqueles arminhas de chumbinho de criança. Mas com minha namorada ali, arriscar não parecia a melhor ideia. Ainda assim, não sei se teria feito alguma coisa, mesmo sozinho.
O de blusa cinza pegou o xadrez da mão de Cassie com violêncio o que me deixou furioso. Ele esvaziou meu bolso, pegou meu celular, minha carteira, minha carterinha do club, meu crachá da escola, minha bolsa, meu relógio e, o pior de tudo, meu pendrive.
Meu pendrive é apenas o item mais importante de todos que eu tinha e já tive. Nele, tudo que eu já escrevi ou pensei, tudo, de toda minha vida, A minha vida, estava lá. Aquilo é possivelmente a coisa mais importante que eu já tive. E, por mais inacreditável que seja, foi minha pior perda da noite.
Eles atravessaram a avenida. E, meio em choque, sem reação, atravessamos também. Eles começaram a gritar coisas como 'volta, volta!', mas a casa dela era do outro lado da rua, então não tínhamos o que fazer. Nesse momento, até o de blusa azul, sem dúvida quem organizara o crime, ficou nervoso. Se a arma fosse de verdade, eles teriam atirado. Eles terminaram de atravessar e desataram a correr.
Eu fiquei com vontade de correr atrás. E quase corri. Dessa vez, tenho certeza que se minha namorada não estivesse lá, eu teria feito alguma coisa. Eu estava tremendo. Estava com o coração a milhão. Nunca me senti tão mal em toda minha vida.
Ela pegou minha mão e me levou calmamente para o quintal de sua casa. Me abraçou forte.
-Henrique, olha pra mim - disse ela, segurando meu rosto pelas mãos e levando sua face um pouco para trás, para poder ver meus olhos - Se acalma, tá?! Por favor, fica calmo. Meu amor, você tá tremendo. Fica calmo, por favor...
Me levou para dentro de casa e avisou sua mãe e seu irmão sobre o ocorrido. Sua mãe ligou pra policia e, logo em seguida, eu liguei para casa.
-Mãe, eu fui roubado.
-O QUÊ?! Henrique, o que diabos você estava fazendo na casa dela até essa hora!? NÃO PODE...
-Mãe, não foi minha culpa!
-Foi, foi sim, Henrique, a culpa é sua, era para você ter vindo mais cedo para casa! - ela estava certo...
A conversa continuou mais um pouco, mas eu estava nervoso demais para lembrar. Ela disse que meu pai já estava chegando e era para eu ir esperá-lo do lado de fora. Fomos todos. A mãe dela disse que uma viatura já estava a caminho.
Chegamos na calçada e ambos a mãe e o irmão dela foram pelas ruas, ver se encontravam alguém. Meu pai chegou de carro e fez o mesmo. Então ficamos eu e Cassie, sós, na calçada, esperando. Ela ficava repetindo para eu ficar calmo. E eu a abraçava, porque era a única coisa que eu queria, que eu podia fazer. A única coisa que poderia me acalmar era ela.
Então meu pai voltou e ela foi achar a mãe dela, deixando-nos a sós. Eu sentei na calçada, enfiei as mãos em baixo da manga curta da camiseta do uniforme e apertei os dois braços com a unha fortemente, no intuito de concentrar-me em algo que não machucaria ninguém que não fosse eu, e ouvi, de cabeça baixa, o quão irresponsável eu sou e o que eu nunca mais iria para a casa dela de dia de semana e provavelmente não sairia mais sozinho. Eu ouvi, sem responder.
Ela voltou. Nossos pais conversaram brevemente, mas não prestei atenção, apenas abracei-a o mais forte que podia pelo tempo que me restava. Não queria ter que largar. Não sabia se conseguiria largá-la. Mas, mesmo assim, entrei no carro e deixa-a em sua casa.
Minha alma ficou com ela.
Meu pai dirigiu até a estação de policia mais próxima e fomos direcionados para outro departamento, no centro da cidade. E lá fomos.
Estava chovendo. A chuva brilhava e batia no vidro do carro, escorrendo sem fim, desaparecendo ao alcançar a lataria, outras substituindo-a, numa torrente interminável de lágrimas.
O caminho, sem fim, estava silencioso e minha mente se concentrava inteiramente naquele rosto perfeito, atormentado com meu tormento. Aquela voz tão doce dizendo-me para manter a calma.
Chegamos no departamento de policia e tivemos que esperar. Ficamos sentados, em silêncio. Certa hora, uma mulher negra, com o aspecto de uns 50/60 anos, adentrou a delegacia e sentou-se num banco. Ela abaixou a cabeça, como se estivesse numa igreja, rezando. Não abriu a boca. Seus olhos vermelhos traziam uma dor interminável. Ela chorava.
-Filho, você não precisa ficar m... - começou meu pai, com a voz suave.
-Podem entrar - cortou a recepcionista.
Enfim fomos chamados para entrarmos na sala e foi feito, de má vontade, nosso Boletim de Ocorrência. Voltamos para casa, então, em silêncio. Chegando em casa, finquei minhas unhas direitas em minha mão esquerda com toda a força que tinha e ouvi, em silêncio ainda, mais uma leva de broncas e reforçaram a ideia de irresponsabilidade e estupidez minhas. Não abri a boca.
Sabem, meu celular, minha carteira, meus documentos, meu material, meu relógio, até a câmera de meu pai (que me causou muita dor por não ser minha) nós poderíamos comprar novamente. Mas minhas histórias, minhas palavras, agora estavam jogadas ao vento. Eu tenho certeza que só sobrevivi a tristeza de perder 15 anos de minha vida porque eu veria novamente aqueles olhos hipnóticos que ansiavam por meu bem-estar.
Eu só sobrevivi porque minha alma não estava comigo, e sim com ela.

É isso, patota. Life is great, right?!
Beijos e abraços,
Corram pelados,
Henrique Dottoly.

7 comentários:

Monica disse...

Eu te amo. Desculpa levar sua a vida a tantos extremos assim. Tudo ainda é perfeito contigo. Sua, Cassie.

Professor disse...

Parece que por algum motivo algo SEMPRE tem que dar errado, quando fui assaltado tinha + ou - sua idade, levaram a dinheiro que eu iria usar para viajar até Guará para fazer a prova da EPCAR.
Fico feliz por vc estar com uma menina legal. Abraços aos dois.

Professor disse...

Ps. Essa é outra mania inutil que os mais velhos tem, contar alguma coisa chata que ocorreu com eles para tentar melhorar a situação.

Mr.T disse...

Cara,deve ter sido muito tenso !
Nem sei o que dizer para melhorar a situação,afinal,perder quinze anos de escrita é triste de verdade !
Mas quer saber de uma coisa ? Acho que você deveria recomeçar um pen drive agora,aproveitando o quanto você está apaixonado e escrever sobre essa nova fase da tua vida ! Logo você não vai nem sentir faltadaquilo,pois vai fazer parte de um passado esquecido !
Sorte que você tem uma namorada legal e meus abraços aos dois !
PS:Que isso professor ? O senhor nem é velho ! Ainda tá na flor da idade !

Anônimo disse...

henrique moric vilela mariano dottoly
já vou tratar do chuck norris 2 já que o chuck norris foi roubado.
quem nunca foi roubado um dia na vida ne? (eu)

to em anonimo por preguiça de entrar na minha conta mas vc sabe quem é

Guilherme, vulgo "Praga". disse...

poisé, tempos dificeis meu amigo!

Não, eu nunca fui assaltado, graças a Deus, mas sinto muito por isso cara! Deve ser beeem tenso...

É esse mundo, que se deixa levar pelas vontades mais sombrias, como você disse, sobre o garoto que tremia, as vezes, as pessoas nem realmente desejam fazer isso, é tudo um impulso, coisa de momento, a hora do: Partiu, fechou, aconteceu.

Não dá pra evitar, não é culpa nossa, é só o que acontece quando as pessoas não tem um VERDADEIRO motivo de vida! E todo esse caos moderno, só tende a piorar, com o enriquecimento dos ricos, e empobrecimento dos pobres, que só acontece porque quem (finge que)manda, faz parecer que estamos vivendo as mil maravilhas...

Do que adianta, dizer que taxas de criminalidade caíram tanto%, se o misero 1% que sobrar, vai continuar sendo ruim pra alguem!

A vida é assim cara, relaxa!
Alguem sempre tem que ceder. Geralmente, somos nós, geralmente, é quem tá certo que cede. INFELIZMENTE!

Mas enfim, tô com saudades seu gay...!

E felicidades com a Cassie!

PS:Ainda tentando me conformar com o motivo de que, não estou junto com todos vocês, meus amigos, por extrema babaquice e idiotice: NÃO VAI SER FACIL!

Amigo filho da puta disse...

EU RI!!!

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